domingo, 26 de janeiro de 2025

Dieta temporária

Sinal de pujança da ascensão da classe C, entre 2003 e 2009, o mercado de Food Service, que reúne as empresas de alimentação fora do lar, sentiu os efeitos da crise no ano passado deixando de crescer na casa dos dois dígitos. Teve uma alta de 6% com faturamento de R$ 60 bilhões, de acordo com o Instituto Foodservice Brasil (IFB). A desaceleração, no entanto, é passageira, afirma Ricardo Marques, vice-presidente da Unilever Food Solutions (UFS). Na visão do executivo, a crise atual está acelerando o processo de mudança já vivido pelo setor, o que inclui o aumento da concorrência e a mudança nos hábitos de consumo. “A despeito da crise, o setor vai crescer em função da urbanização e da chegada de novas redes ao Brasil”, diz. O atual esforço da UFS é trabalhar na construção das marcas Hellmann’s, Knorr, Arisco, Carte D’Or, Ades e Maizena junto aos pequenos e médios donos de restaurantes.

CARDÁPIO VARIADO

Para minha geração, o McDonald’s era a melhor coisa do mundo. Também era uma das poucas opções. Não existia nada parecido. As gerações que consomem hoje possuem uma multiplicidade de opções, restaurantes, casas de hambúrgueres, food trucks, experiências distintas. Passando a crise, redes internacionais de alimentação que não estão aqui, virão. Não se justifica para essas empresas não estarem em um mercado consumidor como o Brasil. As pessoas viajaram e conheceram as referências lá fora, e isso aumentou a exigência. Para o consumidor isso é ótimo, e para o mercado fica o desafio de se superar e melhorar.

EFEITOS DA CRISE

A crise, o que está fazendo, é acelerar e ampliar aquele processo de aumento de exigência que eu citei anteriormente. No momento de dificuldade econômica, o consumidor dá ainda mais valor para o que ele gasta. Sair para ir a um restaurante se torna algo feito com menos frequência, porém, com mais qualidade. Isso trará, assim que a crise passar, uma nova fase para a economia do mercado de food service no nosso País em que se estabelecerão aqueles que buscarem inovação, diferencial e qualidade.

EFICIÊNCIA DO MERCADO

No período em que tivemos acesso maior por parte da classe C ao mercado tivemos um lado muito forte de expansão. Naturalmente, quando você está de casa cheia acaba não se dando tanta atenção para mudar. No entanto, é neste momento que o mercado deve buscar maior eficiência. Quando os restaurantes estão cheios e as vendas sobem, é mais fácil você mudar ou melhorar uma operação porque você pode fazer paulatinamente. Agora, em momento de crise e casa vazia, fica mais complicado porque você tem a urgência de mudar os resultados. Neste momento, muitos pequenos e médios empreendedores que antes resistiam a mudar já nos procuram para testar e experimentar novas possibilidades, e nossa contribuição é desenvolver soluções junto com o mercado.

QUALIDADE DOS SERVIÇOS

O desafio do food service é ampliar a qualidade do serviço. A mão de obra já não é tão barata quanto era há 20 anos. Mandar profissionais embora já não é a melhor forma de tratar o problema da qualificação. Quando você está reduzindo o número de funcionários, tem de tomar muito cuidado para não perder serviços de qualidade. Você treina, estrutura e esse profissional vai para o concorrente ou, às vezes, é vítima da situação econômica.

PROFISSIONALISMO EM FOCO

Estamos lidando diretamente com os chefs de restaurantes menores. Tentamos ajudar a profissionalizar e propor soluções. Mesmo antes de vender, sentamos, tentamos entender a operação e propor soluções e inovações. Existe uma responsabilidade de ajudar a fomentar o setor. Os empresários da área estão tendo de lidar com inflação, aumento de custos e dificuldade de encontrar mão de obra. O nosso trabalho é conseguir colocar nosso pessoal na cozinha e propor soluções, e fazer com que os donos de restaurantes e os chefs vejam ganho nessa relação.

TENDÊNCIA DE ALTA

Não se pode perder de vista que, independentemente da crise, o setor de alimenta­ ção fora do lar, em termos de tendência, ainda tem muito a crescer. O Brasil continua se urbanizando e será cada vez mais importante um mercado profissionalizado. Não se olha mais o setor somente pelo lazer do shopping de fim de semana, mas sim como um provedor importante de refeições. Neste contexto, o quilo toma um papel muito importante. Hoje, 32,9% dos brasileiros fazem algum tipo de refeição, que não é a caseira, diariamente.

CONSTRUÇÃO DE MARCA

A comunicação do setor é muito voltada à precificação e promoção. Pode ver a quantidade de combos e promoções. Ainda são poucos os restaurantes que comunicam a boa refeição e o que ela oferece, além de mostrar a relação de custo-benefício. Neste momento, trabalhamos em uma comunicação voltada a construir marcas com os chefs desses restaurantes. Estamos com uma campanha com Caju e Castanha, para Knorr, trazendo essa linguagem de produto e marca para o B2B. Também trabalhamos para reforçar o recall de Hellmann’s.

PESO DA INFLAÇÃO

A inflação no mercado acabou sendo alta porque houve um processo de repasses. Se você tem uma tendência de aumento demográfico e queda no mercado algo está errado. Mas o repasse acabou encarecendo o setor de certa forma. Chega uma hora, porém, que não dá mais para repassar e por isso a necessidade de buscar alternativas como desenvolver outros produtos.

INOVAÇÃO

A concorrência e todas as dificuldades atuais ajudam a qualificar o segmento. Você precisa inovar e buscar diferencial. Não adianta ter eficiência sem inovação. Não adianta melhorar seu arroz se você não tem algo mais a oferecer, por isso o equilíbrio entre processos mais eficientes e inovação e lançamentos é fundamental. Quem manda neste mercado é o consumidor. É ele quem dita qual sua proposta de valor. Muitas empresas se escoram na tradição e ficam para trás. A tradição precisa vir acompanhada de atualização.

 

(Meio&Mensagem 23/03/2016)

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