Para tirar o pé do freio
Caracterizada por investimentos de longo prazo, a indústria automobilística viveu uma década de ouro entre 2003 e 2012, quando o número de carros e comerciais leves emplacados quase triplicou, passando de 1,34 milhão para 3,63 milhões de unidades. No entanto, a rota de crescimento do setor encontrou a crise econômica e a alta do dólar no caminho, e as vendas caíram vertiginosamente.
Em 2015, foram emplacados 2,47 milhões de carros e comerciais leves, queda de quase 26% em relação a 2014. A perspectiva para o atual exercício não é auspiciosa e repetir o resultado é considerado positivo. No primeiro mês de vendas de
2016 a desaceleração se acentuou e chegou a 38,62%, com 149.699 mil unidades emplacadas. Os dados são da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave).
Apesar da queda, o Brasil continua entre os maiores do mundo (agora é o sétimo atrás de China, EUA, Japão, Alemanha, Índia e Reino Unido) e as montadoras mantêm suas fichas aqui. “Continuamos a acreditar no potencial do mercado de chegarmos a três milhões de unidades em 2019 e, por isso, estamos mantendo nossos investimentos”, afirma Santiago Chamorro, presidente da GM, que prevê injetar R$ 13 bilhões na operação entre 2014 e 2019.
A estratégia das montadoras para lidar com o momento de maior competitividade e com um consumidor mais exigente — e mais prudente financeiramente falando
—, é investir em lançamentos e na tecnologia, além de buscar ainda mais eficiência nas operações, como o aumento do uso de componentes locais para reduzir o impacto cambial e a exportação para merca- dos mais aquecidos. “O mais importante é manter a estabilidade da operação. Primeiro, reduzimos custos, aumentamos a exportação para a América Latina, e adotamos um plano agressivo para aumentar o conteúdo local para os produtos ficarem mais atraentes”, conta Rodrigo Ru- mi, gerente de marketing da Toyota, que ganhou 1,2% em market share em 2015 mesmo com um volume menor de vendas — manteve a sétima posição com 7,1%.
Os carros da fabricante japonesa, desde o Etios até o Lexus, têm central multimídia com interatividade e conectividade (bluetooth e USB). Já a Ford aproveitou o fato de ser a única montadora na Campus Party para anunciar a chegada da terceira geração do Sync ao Brasil ainda em 2016. O sistema multimídia agora tem uma interface semelhante às de smartphones e tablets, processador mais rápido, tecnologia de re- conhecimento de voz e interação com apps como Spotify, 89FM e AlphaFM, e plataformas como Apple CarPlay e Android Auto. Embora ainda faça mistério, a Volkswagen anunciou para breve o lançamento de no- vos modelos com destaque para sistemas de infotainment (informação e entretenimento) inovadores. Trata-se do App-Connect, que permite espelhamento de smartphone com as plataformas MirrorLink, Apple CarPlay e Google Android Auto.
Lançamentos
Líder de mercado há 14 anos, a Fiat Chrysler Automobiles (FCA) — que reúne Fiat, Dodge, Chrysler, Ram e Jeep – viu a diferença para a vice-líder GM diminuir e a mesma concorrente tomar o posto de modelo mais vendido (o Onix superou o Palio). “Ninguém esperava um freio tão grande. A Fiat tem grande parte do seu volume no segmento de entrada, e perdeu share. Mas teve crescimento de SUV com Jeep, que encerrou o ano como a décima marca mais vendida do País com 41 mil carros”, analisa João Ciaco, diretor de brand marketing communication da FCA, destacando a importância do lançamento do Jeep Renegade para o resultado final do grupo no exercício.
A aposta da montadora para recuperar espaço é uma série de quatro lançamentos previstos para os próximos 14 meses. O primeiro deles é a picape Toro, que se- rá apresentada oficialmente à imprensa nesta segunda-feira, 15. “Conectividade é uma grande tendência do setor. Faz parte da evolução. Teremos um carro bem posicionado”, limitou-se a dizer Ciaco, lembrando que a FCA investirá R$ 15 bilhões no Brasil até o final do ano.
Presente no País desde 1998, a Renault não vê alternativa a não ser manter o pé no acelerador. “Uma marca relativamente nova aqui tem de continuar investindo em produto. A crise não afeta nosso calendário. Temos muito claro o objetivo de chegar 8% de participação e fechamos 2015 com 7,3%”, projeta o diretor de marketing Bruno Hohmann. Depois de apresentar os modelos Sandero RS 2.0 e Duster Oroch (sua primeira picape) em 2015, a em- presa prepara outras duas novidades em categorias em que não está presente.
Os principais modelos da Renault são o hatch compacto Sandero, o sedã compacto Logan e a SUV Duster. “Vamos ampliar a cobertura. Com o mercado mais difícil, a inovação conta. Muita gente se motiva”, diz o diretor. A plataforma multimídia Media Nav é outra aposta para chamar a atenção dos consumidores. Atualmente, oito de cada dez carros que saem da fábrica do Paraná têm o sistema — apenas o Clio ainda não conta com a tecnologia, mas há planos para a introdução.
Depois do lançamento na Nova Hilux em novembro passado, a Toyota também prepara uma novidade para o primeiro se- mestre. “Hilux foi a picape mais vendida em dezembro e janeiro. Não vamos reinventar categoria, mas pretendemos surpreender os consumidores”, afirma Rumi, lembrando que a expansão da rede de 150 para 200 concessionárias em 2015 também ajudou o desempenho comercial.
Na vice-líder, a renovação do portfólio de produtos, segundo Chamorro, foi um dos fatores-chave para o sucesso da GM em vendas no varejo, no qual é líder desde 2013. “É o mercado mais competitivo e precisamos de bons produtos. Hoje, todos os nossos carros são modelos novos e tivemos o mais vendido do ano, em seus respectivos segmentos, com Onix, S10, Spin, Camaro e Prisma”, ressalta o presidente, lembrando que os investimentos da empresa incluem uma nova família de carros prevista para chegar em 2019. Se depender do pé direito das montadoras, a desaceleração das vendas será ultrapassada em breve.
(Meio&Mensagem 15/02/2016)